ATA DA DÉCIMA OITAVA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA PRIMEIRA LEGISLATURA, EM 23.08.1994.

 


Aos vinte e três dias do mês de agosto do ano de mil novecentos e noventa e quatro reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às quinze horas e vinte e sete minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Senhor Fernando Gianuca Sampaio, nos termos do Projeto de Resolução nº 36/85 (Processo nº 2610/85), de autoria do ex-Vereador Nei Lima, e pedido o desarquivamento pelo Vereador Luiz Braz. Compuseram a MESA: Vereador Clóvis Ilgenfritz, 2º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, presidindo os trabalhos, Vereador Luiz Braz, Prefeito Municipal em exercício, Doutor Ênio Brusque de Abreu, Procurador-Geral da Justiça do Estado, Major Carlos Vicente Bernardoni Gonçalves, representante do Comandante da Brigada Militar, Jornalista Firmino Cardoso, representante da Associação Riograndense de Imprensa, Senhor Fernando Gianuca Sampaio, Homenageado, Vereador Hagemann, na ocasião, Secretário “ad hoc”. Após, o Senhor Presidente convidou a todos para, de pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, em continuidade, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Jocelin Azambuja, em nome da Bancada do PTB, disse ser a presente homenagem o reconhecimento de Porto Alegre ao jornalista e escritor que, através de seu trabalho, contribuiu para o conhecimento e a valorização de nossa história, viabilizando o resgate de momentos marcantes da vida brasileira. O Vereador Lauro Hagemann, em nome das Bancadas do PPS e PT, declarou sentir-se esta Casa honrada pelo concessão do presente Título, lembrando pesquisas desenvolvidas pelo Senhor Fernando Gianuca Sampaio, especialmente na área de ufologia e da história do Rio Grande do Sul. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Vereador Luiz Braz, Prefeito Municipal em exercício, que saudou o Homenageado, destacando que o trabalho de Sua Senhoria visa o aprofundamento da pesquisa histórica, não aceitando uma análise superficial dos acontecimentos. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, de pé, assistirem à entrega, pelo Vereador Luiz Braz, do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Senhor Fernando Gianuca Sampaio e, após, concedeu a palavra ao Homenageado, que agradeceu o Título recebido, falando sobre sua vida em Porto Alegre e sobre seu trabalho de busca do resgate e da divulgação da nossa história. Durante os trabalhos, o Senhor Presidente registrou a presença da Senhora Teresinha Sampaio, esposa do Homenageado. Às dezesseis horas e vinte e três minutos, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos da presente Sessão, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária da próxima quarta-feira, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Clóvis Ilgenfritz, 2º Vice-Presidente desta Casa, e secretariados pelo Vereador Lauro Hageman, Secretário “ad hoc”. Do que eu, Lauro Hagemann, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após ser distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 


(Obs.: A Ata digitada nos Anais é cópia do documento original.)

 

 


O SR. PRESIDENTE (Clovis Ilgenfritz): Damos início a esta Sessão Solene destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Sr. Fernando Gianuca Sampaio.

Convidamos para compor a Mesa o Exmo. Sr. Prefeito Municipal em exercício, Ver. Luiz Braz; o Exmo. Sr Fernando Gianuca Sampaio, homenageado; o Exmo. Sr. Dr. Ênio Brusque de Abreu, representante do Procurador-Geral da Justiça do Estado; o Exmo. Sr. Major Carlos Vicente Bernardoni Gonçalves, representante do Comandante da Brigada Militar; o Exmo. Sr. representante da Associação Rio-Grandense de Imprensa, Jornalista Firmino Cardoso.

Convidamos a todos para ouvirmos, em pé, o Hino Nacional.

 

(Executa-se o Hino Nacional.)

 

Temos a honra de convidar o primeiro orador, representando a Bancada    do Partido Trabalhista Brasileiro, Ver. Jocelin Azambuja, para fazer uso da palavra. O Processo nº 2610/85 era uma sugestão, uma proposição do Ver. Nei Lima e foi solicitado, neste ano, pelo Ver. Luiz Braz, hoje nos dando a honra de sua presença como Prefeito Municipal em exercício.

Com a palavra, o Ver. Jocelin Azambuja.

 

O SR. JOCELIN AZAMBUJA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais autoridades presentes.) Neste momento em que a Cidade de Porto Alegre presta esta homenagem extremamente merecida ao nosso querido jornalista, mais conhecido como Sampaio, que tem feito obras maravilhosas no decorrer de sua vida como jornalista e escritor e que tem contribuído demais com nossa sociedade, com a vida de Porto Alegre, com o Rio Grande e a nossa história, esta homenagem tem uma conotação toda especial. O Ver. Luiz Braz, ao propor esta homenagem de Cidadão Emérito - e são poucos os agraciados nesta Cidade que têm tão alta honraria e reconhecimento pelo seu trabalho -, foi muito feliz, porque, além de escolher o nosso homenageado, teve, também, a felicidade de poder homenageá-lo num ano histórico da vida rio-grandense, quando comemoramos os quarenta anos de morte do saudoso Presidente Getúlio Vargas. Para nós, Partido Trabalhista Brasileiro, isso tem um relação toda especial, até porque o nosso homenageado, ainda nessa semana, será um dos palestrantes, na próxima quinta-feira, na série de homenagens que a Câmara Municipal de Porto Alegre faz, reverenciando a memória dos quarenta anos da morte de Getúlio Vargas. O nosso homenageado tem um trabalho importante desenvolvido nessa área, inclusive um livro relatando esse trabalhos. É importante que façamos essa reflexão.

Hoje, ao meio-dia, uma pessoa me dizia o quanto é importante termos memória, passado, raízes, e sabermos preservá-los. Fernando Sampaio tem sabido, ao longo de seu trabalho, de sua história de dedicação à importante missão de jornalista, de professor, que ele tão bem exercita, legar a nós, porto-alegrenses, brasileiros e gaúchos, o seu conhecimento, a sua experiência, retratando em suas obras momentos importantes da vida nacional. Isso faz que todos nós reflitamos sobre a necessidade permanente de sabermos preservar a nossa história e resgatar o que de significativo existe na vida e na história brasileira. Dentro dessa relação, é importante que possamos avaliar sempre a situação e que possamos prestar apoio àquelas pessoas que se dedicam a esse trabalho maravilhoso: a missão de escrever, a missão de ser jornalista. Essa missão ele executa com perfeição ao longo dos anos, em suas colunas, nos vários jornais em que já escreveu neste nosso Rio Grande. Ele sempre transmitiu um conhecimento extremamente importante a todas as gerações que tiveram a oportunidade de ler seus trabalhos, de ouvir seus relatos, suas palestras. E isto é extremamente significativo para uma juventude como a nossa, que carece tanto de informações sérias, responsáveis, de homens que tenham conhecimento para transmitir. Com uma imprensa que é questionada, permanentemente, pela sociedade, e num momento em que ela é considerada como um poder acima dos poderes - vejam a importância dos meios de comunicação e do mundo das comunicações - é muito importante também nós refletirmos. Quanto aos jornalistas, aqueles que exercem essa função, como o Sampaio tem exercido ao longo de sua vida, com dignidade, com serenidade e com responsabilidade, é importante sabermos avaliar e vermos profissionais desenvolverem o seu trabalho com bastante seriedade. Nós, do Legislativo, que somos permanente alvo das influências do poder das comunicações, nesta Casa temos colocado uma posição séria de responsabilidade, com a preocupação de fazermos o nosso trabalho com seriedade e responsabilidade. Se vão falar bem ou mal, isso fica na consciência de cada um. O Sampaio tem exercido a sua profissão também com a mesma responsabilidade e com a mesma seriedade, e aqueles que o souberam valorizar e prestigiar têm sempre o seu reconhecimento e têm hoje o reconhecimento da própria Cidade em homenageá-lo.

Por isso, Fernando Gianuca, tenha a certeza de que a Cidade de Porto Alegre está muito honrada em poder prestar-lhe essa homenagem, em poder reconhecer o seu trabalho. Esta Cidade espera que tu possas continuar fazendo esse trabalho sério e honrado que dignifica a todos nós, muito mais a todos que te cercam, e a ti mesmo, pela seriedade com que empreendes tudo aquilo que lanças mão. Por isso, nós, como Vereadores desta Cidade, orgulhamo-nos. Por isso, os Vereadores apoiaram a proposta do Ver. Luiz Braz, que hoje, para o nosso orgulho, está aqui nesta Casa como Prefeito Municipal de Porto Alegre. É um orgulho também para o Partido Trabalhista Brasileiro, depois de muitos anos, voltar a exercer esse mando de poder que é a Prefeitura Municipal de Porto Alegre. É um momento muito feliz para todos. Nós, realmente, estamos muito contentes em poder abraçar e dar os nossos parabéns ao mais novo Cidadão Emérito de Porto Alegre. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

O SR. PRESIDENTE: Gostaríamos de destacar e homenagear a todos na figura da esposa do nosso homenageado, a Sra. Teresinha Leopoldina, e dizer, também, da presença do Ver. Divo do Canto, assim como homenagear os irmãos do Sr. Fernando, meus amigos Renato e Roberto Gianuca.

Ver. Lauro Hagemann está com a palavra pelo PPS e pelo PT.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os demais presentes.) Não é tarefa fácil falar sobre Fernando Sampaio. Esta figura simples, singela, simpática, que ocupa a nossa Mesa principal, carrega consigo uma longa história. Longa e variada. Por isso é que terão que se passar muitos anos para que se possa fazer uma avaliação do que significou, significa e do que poderá significar Fernando Sampaio na história de Porto Alegre, do Rio Grande e na história do Brasil.

Fernando Sampaio é meu conhecido de longo tempo. Nós ainda somos do tempo em que o “Diário de Notícias” funcionava onde hoje é a Galeria Di Primo, antes de ser incendiado - portanto, amanhã, há quarenta anos atrás. Isso na história do homem é um pingo, mas na história das instituições significa muita coisa. De lá para cá, nos encontramos seguidamente em várias frentes de luta. Eu dizia, e não posso levantar em tão curto espaço de tempo todas as coisas que o Fernando já fez e pelas quais se interessou e foi chamado a opinar, mas Fernando é historiador, pesquisador. É, sobretudo, um curioso, sobretudo no que diz respeito às coisas novas que o homem enfrenta, e isto tem um significado muito especial no nosso meio. Por isso a sua projeção nos escritos que produziu no “Diário de Notícias”, no “Correio do Povo”, na “Folha da Tarde”, nas emissoras de rádio, pelas quais passamos quase que concomitantemente nesses longos quarenta e quatro anos.

O Fernando foi um dos primeiros homens que se interessou pelos objetos não-identificados, a Ufologia, que vem do termo em inglês “Unindentified Flying Objects”, os UNOS, Objetos Aéreos Não-Identificados. Ele pesquisou e foi até chamado a altas esferas de poderes constituídos deste País para dar a sua opinião a respeito de tudo o que tinha pesquisado, do que tinha sabido, do que tinha deduzido. Este é um dos aspectos da personalidade do nosso homenageado e, assim, em outros setores de pesquisas que o Fernando se embretou, e com muita pertinência.

É difícil lembrar todos os aspectos que o Fernando abordou. Não sei a que objeto ele está se dedicando hoje, mas ele poderá dizer depois. Eu sei que ele gosta muito de pesquisar aspectos históricos, e eu ouvia o Ver. Jocelin Azambuja dizer que ele vai pronunciar uma palestra sobre Getúlio Vargas, que é um nome da nossa época e apresenta um aspecto muito interessante, não só como personalidade histórica, mas como personalidade humana. Ainda vão decorrer muitos anos para que se possa ter uma idéia mais aproximada do que foi, realmente, Getúlio Vargas, indiscutivelmente o estadista do nosso século e que deixou um nome não só no Brasil, mas em toda a América do Sul e no mundo todo porque, afinal de contas, o nosso País é um continente. Mas o Fernando se dedicou ao estudo de Getúlio Vargas e poderá, nesta palestra, percorrer com mais intensidade os caminhos da história do Brasil neste período de trinta para cá. E, assim, sobre outros aspectos da história, o Fernando deve ter um conhecimento profundo, porque ele se dedicou, sobretudo, à história rio-grandense, à história da Revolução Farroupilha, essas coisas que nos dizem respeito mais de perto. Não é uma abrangência pela superficialidade, mas, sim, um aprofundamento dessas questões. Por isso a Câmara Municipal de Porto Alegre se sente muito honrada em conceder este prêmio ao cidadão Fernando Gianuca Sampaio, Cidadão Emérito de Porto Alegre, porque a nossa Cidade tem sabido muitas vezes - às vezes, nem sempre - recompensar e reconhecer a cidadania ilustre de alguns cidadãos nossos, mas, no caso presente, acho que se faz plena justiça, como em outros casos também, mas no caso de Fernando Gianuca Sampaio a Câmara Municipal e a Cidade de Porto Alegre se sentem recompensadas pelo esforço deste filho ilustre que contribuiu para o engrandecimento do acervo cultural desta Cidade. Meus parabéns. Muito obrigado pelo comparecimento dos amigos. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Está com a palavra o Prefeito de Porto Alegre, hoje em exercício, Presidente desta Casa, Ver. Luiz Braz.

 

O SR. LUIZ BRAZ: Sr. Presidente em exercício, meu grande amigo, Ver. Clovis Ilgenfritz; meu amigo homenageado, Prof. Sampaio. (Saúda os demais componentes da Mesa.) Realmente, é motivo de muita satisfação ter sido, não o autor da proposição - gostaria de ter sido o autor da proposição, porque conheço o Prof. Sampaio há muitos anos -, mas fui o Vereador que desarquivou o processo do Prof. Sampaio a fim de que hoje estivéssemos fazendo a entrega do Título que é, realmente, muito merecido e que toda a nossa Casa queria que acontecesse. Também quero aproveitar esta oportunidade e me desculpar com meu amigo Krieger de Mello. O Krieger, na semana passada, recebeu o Título de Cidadão de Porto Alegre e não pude estar presente - como gostaria de estar - presidindo a Sessão em que ele estava recebendo a sua homenagem e sendo reconhecido como Cidadão de nossa Cidade. Mas, Krieger, pode ter certeza absoluta que de coração eu estava presente.

Agora, na semana que vem, estaremos iniciando a semana de comemorações dos duzentos e vinte e um anos da Câmara Municipal de Porto Alegre, inaugurando um livro que ficará à disposição dos interessados, todos os dias, onde estarão registrados todos os Cidadãos Eméritos de Porto Alegre, com as suas histórias, com os seus projetos que deram origem ao título, para que tenhamos um vínculo constante da Casa que concedeu o título àquele que foi homenageado. Acho que é uma lacuna que existe no momento, e, se Deus quiser, estaremos preenchendo a partir da semana que vem, quando estaremos iniciando as nossas comemorações dos duzentos e vinte e um anos da Câmara Municipal.

Mas cheguei aqui, na Cidade de Porto Alegre, há dezenove anos. Não sou natural de Porto Alegre, todos sabem, e há dezenove anos eu chegava em Porto Alegre e ia fazer um programa na então Rádio Farroupilha, que ainda pertencia às Emissoras Associadas, que estavam praticamente no seu momento final aqui, no Rio Grande do Sul, mas que tinha, até então, uma trajetória gloriosa. Infelizmente, aqueles momentos finais que eu ainda consegui viver dentro das Emissoras Associadas não eram, assim, momentos tão gloriosos, apesar de toda a pujança que vivíamos dentro daquela organização. Existiam nomes fabulosos, pessoas que admiro até hoje, porque até hoje são pessoas extremamente importantes. Uma dessas pessoas que encontrei naquela época quando eu chegava nas Emissoras Associadas, que foi quem abriu para mim a primeira chance de fazer um programa na Rádio Farroupilha, foi o nosso amigo Dilamar Machado, Vereador e ex-Presidente desta Casa, atualmente ocupando a posição de Secretário do Governo do Estado.

Naquela época, exatamente quando eu chegava aqui, tive a oportunidade de conhecer o Sampaio. Eu tinha certeza absoluta de que o Sampaio tinha militado nas Emissoras Associadas, até porque os outros órgãos que o Lauro citou, anteriores ao “Diário de Notícias,” alguns juntos, como é o caso da “Folha da Tarde,” mas outros anteriores... Eu tinha certeza, por exemplo, da participação do Sampaio dentro dos Diários Associados, e lá aprendi a conhecer o Sampaio e tinha um orgulho danado. Eu chegava do interior de um outro Estado para Porto Alegre. Tinha orgulho de conhecer alguém que para mim era um cientista, que depois fiquei sabendo que era realmente um cientista, porque o Fernando Sampaio é do tipo de jornalista que não fica apenas na superfície. Aliás, ele não concorda em viver apenas na superfície; ele vai mergulhar no fundo para buscar conhecimentos bem maiores a fim de oferecer esses conhecimentos ao seu leitor ou aos ouvintes. Tive a oportunidade, nos programas de rádio que apresentava na Rádio Farroupilha, de explorar com o Fernando Sampaio um tema que era comentadíssimo na época: discos voadores, outros planetas, outros mundos habitados, possibilidades nesse campo. Uma pessoa, naquela época, que me dava uma base para fornecer informações aos nossos ouvintes era essa mente esclarecida do meu amigo Fernando Sampaio. Naquela oportunidade, eu nem podia adivinhar que, passados muitos anos, poderia, na Câmara de Vereadores, vir a participar desse processo de reconhecimento desse jornalista. Fico feliz de, nesta Casa, como Prefeito, já que o Tarso viajou e me deixou essa oportunidade de estar exercendo hoje o Executivo Municipal, de vir à Câmara e ter essa chance que o Ver. Clovis Ilgenfritz me dá de ocupar a tribuna e fazer a minha saudação a este que vai ser o mais novo Cidadão Emérito da Cidade de Porto Alegre, que vai se orgulhar, como sempre se orgulhou, muito da sua trajetória, do seu nome, que agora está inscrito entre os nomes de todos aqueles que têm o reconhecimento da nossa sociedade. Obrigado a todos, felicidades ao Fernando Sampaio, sucesso, e que continue sempre assim: notável e amigo de todos. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Passamos ao momento mais importante desta Sessão e convidamos a todos para, em pé, assistirmos à entrega do Título de Cidadão Emérito ao Sr. Fernando Sampaio, feito pelo Sr. Prefeito Municipal.

 

(Procede-se à entrega do Título de Cidadão Emérito.)

 

Passamos a palavra para o nosso homenageado.

 

O SR. FERNANDO GIANUCA SAMPAIO: Primeiramente, quero agradecer a presença do meu amigo e atual Prefeito de Porto Alegre, Ver. Luiz Braz. Quero agradecer a presença de todos que hoje estão aqui presentes a essa homenagem e também o Ver. Clovis Ilgenfritz, Presidente em exercício.

O título me é particularmente grato, porque, como todos sabem, eu sou natural do Rio de Janeiro, embora tenha feito a minha carreira profissional em Porto Alegre, carreira essa que, pelo que me diz o Ver. Lauro Hagemann e outros que aqui falaram, é uma coisa até museológica. Começo a ficar até envergonhado com tantas informações arqueológicas que foram pescar no passado distante. Hoje em dia a juventude de Porto Alegre não conhece mais o “Diário de Notícias”, “Revista do Globo,” “Jornal do Dia” e muitos outros órgãos nos quais nós atuamos.

Realmente, foi um acaso, uma obra do destino, digamos assim, pois comecei em Porto Alegre o meu trabalho de divulgação jornalística quando ainda estava nos bancos do Ginásio Anchieta. Tive o prazer de ser o único aluno ginasiano a escrever no jornal em que só se escrevia ao ingressar no Clássico, ou seja, no segundo grau. Ali, em 1957, comecei a escrever uma série de colunas de divulgação de curiosidades científicas. Alguns anos depois, já em 1962, fui convidado a integrar o quadro da Cia. Jornalística Caldas Júnior. Eu entrei no “Correio do Povo” com dezessete anos de idade, e por isso é que a aparência desmente esses dados que vocês estão falando tão remotamente no passado. Eu tive a oportunidade, então na Caldas Júnior, de desenvolver um trabalho que tinha como objetivo não só a divulgação cultural e científica em vários aspectos do conhecimento humano, mas me preocupei também, muito e primordialmente, com a tarefa de tentar fazer a divulgação científica, algo inerente à juventude que então eu vivia junto com outros jovens que eu agreguei em torno de uma sociedade para estudos científicos. Infelizmente, não foi uma tarefa fácil. Eu diria até que uma homenagem como esta que recebo hoje, aqui na Câmara Municipal, me é extremamente grata tendo em vista todas aqueles maus momentos e ingratidões que recebi tentando colocar como parte da filosofia de vida na nossa sociedade a necessidade do conhecimento científico. Por que isto? Porque, vejam bem, a data que eu comecei a escrever para os jornais, ainda no colégio, em 1957, coincide com a data do lançamento do primeiro satélite artificial da Terra, o Sputinik I, em outubro de 1957. Ora, nesse tempo, falar-se em coisas do espaço, em vida em outros planetas, em possibilidade de colocar satélites, foguetes, era algo considerado não só utópico como loucura absoluta. No entanto, tive que afrontar, e isso me deu uma série de dissabores, esta oposição que havia no nosso meio cultural quanto a se olhar não só a cidade, mas também o cosmos inteiro e o que se realizava nele. Por que isto? Porque os senhores devem, todos, ter em mente o momento em que o homem passou de simples habitante do planeta terra a um homem cósmico, sendo que, atualmente, a NASA já tem um projeto de 50 bilhões de dólares, o que para eles é considerado barato, para colocar no ano 2009 uma tripulação de seis pessoas no planeta Marte, que deverão retornar à Terra em 2012. O que significa isto? Significa que, hoje em dia, é o avanço da ciência e o seu subproduto, que é a tecnologia, que permitem não só o avanço que se expressa em melhor Medicina, melhor Engenharia, mas também o avanço que permite uma maior capacidade de absorção e geração de empregos. Setenta por cento dos novos empregos que têm sido oferecidos nos Estados Unidos nas últimas décadas são decorrentes do avanço científico e tecnológico e não mais da utilização de sistemas tradicionais de indústria, comércio ou serviço. É básico para qualquer sociedade que hoje tente enfrentar o século XXI - que já está nas nossas portas - que valorize, sobremaneira, a ciência, a técnica e aqueles que se dedicam a elas, porque será somente através dessa via que poderemos tentar absorver, num prazo razoável de tempo, a falência que nossa sociedade apresenta hoje em dia, sob a forma da miséria, do desemprego, opressão e, conseqüentemente, criminalidade. Nós somos pobres em riquezas. O Brasil não é um País rico; ele é potencialmente rico. Nós temos recursos, mas não temos capitais para explorá-los. Daqui para frente, capitais para explorar os recursos econômicos serão cada vez mais caros, produzidos por refinadas tecnologias, resultado de uma ciência que é capaz de colocar homens em Marte daqui a oito ou dez anos, enquanto que nós, no Brasil, não somos capazes de colocar nosso próprio satélite artificial em órbita -  utilizamos um satélite artificial construído pelos americanos e lançado por um foguete europeu na Guiana Francesa.

Esse descompasso entre o que se passa no plano internacional, e até espacial interplanetário, e aquilo que somos é algo que precisa ser fechado. Esta brecha só poderá ser fechada através de uma evolução constante e segura no campo da ciência e da tecnologia; não há outra solução. Isto eu tento dizer - vejam V. Exas. - há quase quarenta anos. Infelizmente, depois de fechada a nossa Caldas Júnior, em 1974 - lá escrevi durante vinte e dois anos -, não me foi possível obter, novamente, em Porto Alegre, um espaço onde eu possa desenvolver este tipo de trabalho. Os meios de comunicação, hoje em dia, estão fechados a trabalhos - como V.Exas. tiveram a bondade de qualificar - que tenham um pouco mais de profundidade do que aquela superficialidade geral que se observa nos meios de comunicação, superficialidade esta, inclusive, muito perigosa. Porque essa imprensa de hoje, ao invés de descer à análise profunda dos fatos, das causas, está mais preocupada com a promoção de escândalos que, embora possam servir, em determinados momentos, a objetivos muito importantes, quais sejam, a renovação das maneiras de ser da nossa vida política, ainda assim não devem tornar-se o único objetivo da imprensa. E isto, infelizmente, é o que estamos observando nos dias de hoje. Então, há por parte do público um ressentimento muito grande pela falta de ensaios, de artigos de fundo, de colunas que tragam algo mais do que aquilo que diariamente se passa em certos submundos que, infelizmente, se apossaram de algumas áreas do poder no nosso País.

Mas nem tudo é negativo, muito pelo contrário. Especialmente aqui, nas áreas do Estado e do Município, nós temos tido uma série de feitos, ao longo do tempo, que, com certeza, pesaram nesta concessão que me fazem - a cidadania emérita de Porto Alegre -, uma série de feitos que me deixam muito satisfeito quando, por exemplo, conto aqui com a presença do representante do Comando da Brigada Militar. A Brigada Militar me é muito grata porque coloquei esses jovens a trabalhar, em 1965, na defesa dos sambaquis e do patrimônio arqueológico e histórico do Estado, que estava sendo destruído. Eu tive o prazer de, através da ação eficiente da Brigada Militar, assegurar que muitos sítios arqueológicos e históricos no Estado e em Porto Alegre fossem preservados da ganância e do imediatismo de aproveitadores que só pensam no lucro imediato e esquecem que é uma necessidade de todo o povo a preservação da memória história porque, sem o passado, nenhum povo consegue viver o presente de forma a se articular com vistas ao futuro.

A própria Prefeitura de Porto Alegre - infelizmente, o Vice-Prefeito Guilherme Socias Villela não está aqui -, por intermédio do Prefeito, em 1965, deu-me a oportunidade de, modestamente, auxiliar, mobilizando cem nomes de intelectuais de maior evidência em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul, a começar por Érico Veríssimo, Eliseu Paglioli, Manuelito de Ornellas, Ângelo Guido, enfim, nomes da cultura com quem eu tinha relações, para que não se destruíssem os prédios históricos de Porto Alegre, como se vinha fazendo depois daquela reformulação do urbanismo da Cidade, com as obras do Prefeito Thompson Flores. Naquela época se fez muita destruição em Porto Alegre, necessária para a rede viária, mas se aproveitou para destruir muita coisa que não deveria ser destruída pelo que representava para a história da nossa Cidade. Lembro, em especial, um bloco de prédios no Centro, que hoje é marcante pela sua beleza, a atual sede do Banco Safra. Nós tivemos a oportunidade de interessar o Banco Safra para que preservasse a fachada da antiga Farmácia Carvalho e do Cine Guarani, que representa uma riqueza de escultura e da história da nossa Cidade, que não poderia ser destruída por uma picareta, como naquela época queriam fazer, em 1975.

Vejam que, no prédio que era a Farmácia Carvalho, e que durante muitos anos foi o escritório dos Advogados Couto e Silva, aquele prédio é o único palacete “art noveau” que ainda existe em Porto Alegre na área central. Não existe outro exemplo deste tipo de arte, na arquitetura, dentro da área central de Porto Alegre. O prédio do Cinema Guarani, que vocês agora vão ter oportunidade de ver com outros olhos, é o único exemplar de barroco alemão, uma escultura de fachada, cujo preço na Europa ou nos Estados Unidos é absurdo. Não se faz mais este tipo de trabalho; no entanto, as empreiteiras queriam destruí-lo para construir caixões, que são estes prédios que temos hoje na nossa arquitetura e que são, inclusive, muito mal planejados em relação ao nosso passado histórico, que é um passado colonial, português. Há certos tipos de hábitos de moradia que foram destruídos por esta americanização da nossa sociedade e que, inclusive, não estão de acordo com o nosso clima, haja vista, por exemplo, o nosso representante do Tribunal de Justiça e de outros órgãos, onde eles são obrigados a viver vinte e quatro horas por dia dentro de um ambiente com ar-condicionado, dada a incapacitação que tiveram os arquitetos de adequar o prédio às condições ambientes em que nós vivemos, naquela ânsia de buscar apenas o modernismo ou o modernismo americano. Isso tudo é simplesmente falta de cultura ou falta de visão, até diria científica, do ambiente e da sociedade em que nós vivemos. Tudo isso foi o que eu tentei, ao longo dos anos, fazer com que a Cidade preservasse ou tivesse consciência desses aspectos. Em várias das nossas campanhas tivemos uma boa acolhida, como, por exemplo, a criação do Planetário de Porto Alegre, que, inclusive, eu queria que fosse um órgão municipal, porque entendo que a Universidade não é o órgão adequado para a divulgação científico-popular, porque ela não se presta para isso. Não é a sua função. Isso seria uma função de um órgão municipal, de uma secretaria de cultura popular, mas, infelizmente, foi feito, na época, com essas diretrizes, contrariando o nosso ponto de vista. Porém, o Planetário nos iria ser roubado, pois estava depositado no cais do porto e já o Estado do Rio de Janeiro tinha-se apropriado da cúpula e, em pouco, o levaria todo. Mas, felizmente, graças à campanha que eu pude fazer no “Correio do Povo”, foi construído pela Prefeitura e é operado pela Universidade.

Assim, tivemos várias lutas ao longo dos anos, tudo sempre no sentido de procurar fazer com que a divulgação científica e tecnológica e também a cultura em geral sejam sempre ressaltadas em nossa sociedade. Dentro dessa cultura geral, não poderia faltar, como lembraram os Vereadores Jocelin Azambuja, Lauro Hagemann e outros, o aspecto histórico, por uma série de oportunidades que na época existiam e que hoje não existem mais. Eu tive a oportunidade de me formar na primeira turma que estudou História do Rio Grande do Sul, na Faculdade de Filosofia, em 1962. Graças a um ano que passei no Curso de Extensão Universitária, foi-me possível aprender a história do Rio Grande dentro do contexto histórico que foi a Revolução Farroupilha e o que representou Getúlio Vargas junto a outros nomes. E assim, em várias oportunidades, eu tenho procurado transmitir esses conhecimentos sempre que me são solicitados, porque nós entendemos, e nisso o Ver. Jocelin Azambuja foi muito feliz, que Getúlio Vargas foi um dos grandes líderes da nossa história, e eu diria até que temos poucos líderes dessa estatura. Na História do Brasil Republicano, nós só podemos apontar grandes nomes, que seriam Floriano Peixoto, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, que realmente se destacaram no cenário histórico. Mas por que isso? Também, em parte, porque a falta de memória histórica está fazendo com que hoje em dia não se saiba mais nada. Se alguém pergunta, por exemplo, o nome de quatro Presidentes da República Velha, quem se arriscaria? Quem diria o nome de Prudente de Morais, quem diria o nome do Marechal Hermes da Fonseca? Vejam, senhores, que coisas recentes nós já não sabemos. No entanto, todos sabem perfeitamente nomes de vultos históricos de outros países, para não dizermos logo dos Estados Unidos, que nos colonizam culturalmente. Então, daí a importância deste convite que o Ver. Jocelin Azambuja, juntamente com sua bancada, o PTB, fizeram para que eu abra, no dia 25, o círculo de homenagem a Getúlio Vargas, porque casualmente, no ano passado, eu publiquei um pequeno ensaio dizendo da atualidade e do significado de Getúlio Vargas para os dias de hoje. Eu acho que é a partir da análise de figuras como ele que nós podemos traçar aqueles planos, aquelas diretrizes que iam levar-nos a uma posição independente dentro do cenário político internacional. E podemos traçar também, estudando a vida de Getúlio Vargas, onde é que aquilo foi obliterado, levando o Brasil a um outro caminho, o qual agora, mais precisamente para o futuro, nós teremos que resgatar. Como isso será feito é tarefa para os políticos, e não para um simples jornalista e velho professor como eu. Então, fica aqui a indagação, com os meus agradecimentos pela homenagem e pela presença de todos vocês. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nós temos a honra de registrar a presença do Ver. João Dib e do Cidadão de Porto Alegre, que já foi citado no discurso do Presidente, o Sr. Krieger de Mello.

Permitimo-nos, ao encerrar esta Sessão, dizer, em nome de todos os Vereadores desta Casa, além dos ilustres oradores que fizeram uso da palavra, da nossa enorme satisfação e honra de presidir esta Sessão. Quando falava, o Sr. Fernando Sampaio me faz lembrar de 1957, quando eu vim para Porto Alegre, de Ijuí e Passo Fundo, onde eu estudava, para fazer um exame de piloto civil. Chamou-me a atenção que o que fez com que despertasse muita gente jovem naquela época para a ciência, música, pesquisa e tecnologia foram as inquietações e as buscas do Cidadão Emérito de hoje. Foi muito importante. Eu, na época, fui influenciado a fazer pesquisas comprando alguns livros sobre o assunto. Também como arquiteto, urbanista, como um daqueles que faz questão de ser dedicado à questão da arquitetura na nossa Cidade, eu concordo com as colocações feitas pelo nosso Cidadão. Há muita coisa errada na nossa arquitetura, e eu acho que a preservação histórica que foi feita, que teve a presença marcante de V. Sa., é importante para nós traçarmos não só um estudo do passado, mas também um perfil do futuro.

Mais uma vez, foi uma honra. O Sr. Prefeito em exercício está convidando a todos para permanecerem no Plenário, porque nós teremos “ad continuum”, uma homenagem ao ex-Presidente Getúlio Vargas, homenagem esta à qual me associo.

Estão encerrados os trabalhos.

 

(Encerra-se a Sessão às 16h23min.)

 

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